Tarifas anunciadas por Trump podem fortalecer relação entre Brasil e China, afirmam especialistas
13/07/2025
(Foto: Reprodução) Chineses já são o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009. Setor automobilístico é um dos principais na relação entre os países. Segundo especialistas, taxas dos EUA devem aproximar mais o Brasil da China
Especialistas em relações internacionais dizem que as tarifas anunciadas por Donald Trump podem acabar fortalecendo ainda mais os laços do Brasil com a China. Os chineses já são o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009.
Distâncias são relativas, no mundo dos negócios. Enquanto os Estados Unidos se afastam do Brasil, a China se aproxima. Um caminho percorrido, em parte, sobre quatro rodas.
A importação de carros chineses pelo Brasil deu um salto em 2023 e atingiu US$ 1 bilhão. No ano passado, US$ 3 bilhões. Neste ano, só até junho, o valor já passa de US$ 2 bilhões.
Setor automobilístico é um dos mais importantes na relação entre Brasil e China.
Reprodução/Jornal Nacional
Mas o desembarque não é mais só de carro pronto. Fábricas inteiras têm vindo da China para o Brasil.
E ocupando espaços que já foram de montadoras ocidentais — seja na Bahia, seja no interior de São Paulo.
Em São Paulo, a linha de produção será inaugurada no mês que vem, pouco mais de dois anos depois da venda do primeiro carro da marca no Brasil.
"Nossa estratégia sempre foi olhar o Brasil, começar a fazer as primeiras vendas, trazer novas tecnologias, mas também preparar uma estratégia para fazer do Brasil uma base de produção para o Brasil, para a América do Sul e para a América Latina", afirma Ricardo Bastos, diretor de relações institucionais da GWM.
Investimento significa avanço nas relações entre dois países. É como se as duas partes assumissem um compromisso maior, para além da compra e venda de produtos.
E os chineses têm reforçado em ritmo acelerado o interesse pelo Brasil.
Em uma década, a China superou os Estados Unidos na quantidade de dinheiro investido aqui — principalmente em mobilidade, energia limpa e tecnologia.
Túlio Cariello, diretor do Conselho Empresarial Brasil-China explica que a China tem ocupado territórios que os Estados Unidos deixaram de lado.
"A América Latina acabou ficando um pouco à deriva, vamos colocar assim, nas prioridades de política externa americana. E nesse contexto, a China, por ter também uma proximidade ali de complementaridade muito grande com a América Latina — porque é uma região que fornece, por exemplo, insumos essenciais, commodities agrícolas, minerais, energéticas para a China —, essa aproximação é natural", detalha o diretor de Conteúdo e Pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China.
"Então eles têm buscado fortalecer muito também os laços diplomáticos com os países da América Latina, têm fortalecido também a sua presença de investimentos. Isso acaba tendo uma importância muito significativa para tornar mais eficiente a relação comercial entre a América Latina e a China no longo prazo", acrescenta.
Uma proximidade que, na avaliação de Alexandre Uehara, professor de Relações Internacionais, desagrada ao presidente Donald Trump.
Mas mesmo com novas taxas para os produtos brasileiros nos Estados Unidos, ele diz que o Brasil não deve fechar portas.
"Economicamente falando, de fato, não vejo que haja interesse para o Brasil se distanciar de nenhum dos dois, porque os dois são parceiros importantes tanto em termos de investimento como em termos de comércio. Eu entendo que, para o Brasil, é melhor que haja uma negociação, que a diplomacia avance e consiga resolver essas tensões", analisa Uehara, que é coordenador do curso de Relações Internacionais da ESPM.
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