Sistema com IA prevê nível dos rios no AM com até 30 dias, podendo antecipar secas e enchentes
12/11/2025
(Foto: Reprodução) Sistema com IA prevê nível dos rios no AM com até 30 dias, podendo antecipar secas e enchentes
Marcelo Dutra/Rede Amazônica
Uma tecnologia desenvolvida no Laboratório de Modelagem do Sistema Climático Terrestre (LabClim), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), está ajudando a prever o comportamento dos rios da região com o apoio da inteligência artificial (IA). O sistema, criado por alunos e pesquisadores do laboratório, calcula a variação das cotas dos rios com até 30 dias de antecedência.
O modelo utiliza redes neurais, uma forma de IA inspirada no funcionamento do cérebro humano, para "aprender" a dinâmica natural dos rios, analisando séries históricas de dados de cota, chuvas e outros fatores. As informações são cruzadas com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), além de bancos meteorológicos e hidrológicos mantidos pelo próprio laboratório.
A equipe multidisciplinar do LabClim, formada por meteorologistas e geólogos, trabalha na coleta, atualização e análise dos dados.
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A partir desse conjunto de informações, o sistema projeta o nível das águas para as próximas semanas, com erro médio inferior a 2%, segundo os pesquisadores.
"A rede neural funciona como o cérebro humano. Cada neurônio processa as informações que recebe, como cotas e índices de chuva, e, com o tempo, o modelo aprende o comportamento do rio”, explicou Diogo Gomes dos Santos, aluno de Engenharia de Computação da UEA e responsável pelo desenvolvimento do projeto.
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O estudante testou dois tipos de redes neurais: Multilayer Perceptron (MLP) e Long Short-Term Memory (LSTM) para comparar o desempenho e a precisão de cada uma.
"Como o nível do rio é uma série temporal, o modelo consegue prever o que vem depois com base nos dados anteriores”, disse o aluno.
Antes de entrar em operação, cada nova previsão gerada pela IA passa por um processo de simulação e validação. Os pesquisadores comparam os resultados obtidos com dados reais. Quando há diferença significativa, o modelo é ajustado e reprocessado para aumentar a confiabilidade das projeções.
Inicialmente aplicado ao Rio Negro, em Manaus, o sistema está sendo expandido para outras bacias, como os rios Madeira, Solimões e Amazonas. Hoje, ele gera previsões de até 30 dias, com precisão considerada alta para a complexidade dos fenômenos naturais da região.
Apoio direto
Os resultados das simulações feitas no laboratório já são utilizados em boletins e relatórios que abastecem o sistema de informações do governo do estado. Os dados ajudam órgãos de gestão ambiental, logística e defesa civil a se anteciparem a períodos de estiagem ou cheia, que impactam desde o transporte fluvial até o abastecimento de comunidades ribeirinhas.
"É uma IA criada dentro da UEA, no Amazonas, com potencial de apoiar tanto o poder público quanto o setor privado. Ela contribui para o planejamento da logística, do transporte, da agricultura e de ações emergenciais”, afirmou o coordenador do LabClim, professor e doutor em meteorologia, Francis Wagner.
Além de integrar o sistema de monitoramento estadual, a equipe prepara o lançamento de um aplicativo próprio, previsto para os próximos meses. A ferramenta vai reunir informações de chuva, temperatura e nível dos rios em tempo real, permitindo que qualquer pessoa, de gestores a ribeirinhos, acompanhe as previsões diretamente pelo celular.
Atualmente, as previsões do laboratório são divulgadas a cada 15 dias em boletins disponíveis no site e nas redes sociais do LabClim.
"A ideia é que o modelo evolua para previsões cada vez mais detalhadas e acessíveis, permitindo que as comunidades e o poder público consigam agir antes que os impactos climáticos sejam sentidos”, completou Francis.
Tecnologia com DNA amazônico
A iniciativa reforça o papel da ciência produzida na Amazônia para enfrentar desafios típicos da região. Com o avanço das mudanças climáticas e a intensificação de fenômenos como El Niño e La Niña, o uso da inteligência artificial tem se mostrado essencial para antecipar eventos extremos e reduzir prejuízos ambientais e econômicos.
"É uma tecnologia feita aqui, por gente daqui, voltada para resolver problemas do nosso território", resumiu o professor.
Equipe do LabClim que conta com meteorologistas e geológos
Marcelo Dutra/Rede Amazônica
Doutor em Meteorologia e coordenador do LabClim, Francis Wagner
Marcelo Dutra/Rede Amazônica