Ceará pode ser o 1º estado brasileiro a produzir pistache, fruta que ganhou o país
19/04/2025
(Foto: Reprodução) Todo o pistache utilizado no país atualmente é importado. Iniciativa de agricultores cearenses busca caminhos para produção na Serra da Ibiapaba. Atualmente, o pistache consumido no Brasil é todo importado.
Getty Images via BBC
Na Páscoa, no Natal e em qualquer época do ano, os recheios esverdeados do pistache tomaram conta do cardápio dos brasileiros. No entanto, o país não produz pistache e importa 100% do fruto que consome. Uma das iniciativas para tentar viabilizar uma produção nacional do pistache tem a Serra da Ibiapaba, no Ceará, como possibilidade.
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A ideia tem sido defendida nos últimos três anos por agricultores do estado. O objetivo é testar a região serrana como um lugar possível para o cultivo do pistache, cuja planta se adapta a climas quentes, mas precisa de períodos constantes de temperaturas baixas.
O caminho para esta produção é ousado e lento. Os desafios passam por etapas burocráticas e dificuldades naturais. O tempo é outro fator: caso a empreitada tenha sucesso, a primeira safra só chega depois de aproximadamente dez anos do início da produção.
De onde vem o nosso pistache
O fruto verde tem um cultivo milenar originário das áreas montanhosas do Oriente Médio, tendo sido citado nos escritos bíblicos do Velho Testamento como um dos “melhores produtos da nossa terra”.
No Brasil, é comum pensar que a noz do pistache seja uma novidade. Mas os números ajudam a explicar uma verdadeira invasão no nosso mercado. Em menos de dois anos, as importações brasileiras triplicaram.
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Foram de 350 toneladas, em 2022, para mais de mil toneladas até novembro de 2024, segundo informações da Comex Stat, plataforma do governo federal com dados sobre o comércio exterior.
Estados Unidos e Irã dominam o mercado mundial de pistache, sendo responsáveis por cerca de 75% da produção. Das mais de mil toneladas de pistache importadas no Brasil em 2024, 85% vieram dos Estados Unidos.
De alto valor comercial, o pistache que entra no país hoje se baseia nas alterações do preço do dólar. Um dos potenciais para a produção local é abastecer o mercado interno com valores mais baratos.
Características da planta
O volume de importação do pistache no Brasil triplicou entre 2022 e 2024.
Gelateria Borelli/Divulgação
O pistacheiro é uma planta originária da Pérsia (atual Irã), região com clima desértico e temperaturas baixas no inverno. A planta pertence à família Anacardiaceae, a mesma família do cajueiro e da mangueira.
Uma das diferenças é que os cajueiros e as mangueiras se adaptam a climas quentes, enquanto o pistacheiro necessita de períodos de frio, de acordo com a Embrapa Agroindústria Tropical.
A árvore de pistache demora cerca de dez anos para ter um ciclo reprodutivo completo. Depois disso, pode durar até 100 anos caso seja bem cuidada.
Nos Estados Unidos, a produção se concentra principalmente no Vale de San Joaquín, na Califórnia. A região central do estado, com verões longos e períodos de inverno com temperaturas moderadas, aposta em técnicas de produção e colheita para liderar o mercado do pistache.
Passos para a produção no Ceará
Serra da Ibiapaba pode ser a primeira região do Brasil a produzir pistache.
Secretaria do Turismo do Ceará/Divulgação
Em 2022, a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) divulgou a intenção de transformar o Ceará no primeiro produtor de pistache do Brasil.
A iniciativa dos agricultores veio após uma visita às plantações da Califórnia. A ideia seria experimentar se o cultivo do fruto daria certo no estado. Para isso, a instituição acionou a Embrapa para realizar a importação do material genético da planta.
Quase três anos depois, os passos para essa iniciativa pouco avançaram. Procurada pelo g1, a Faec informou que o material genético para o cultivo ainda não foi definido. Esse processo seria feito em parceria com a Embrapa.
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O local para esta produção já foi escolhido: a Serra da Ibiapaba. Quase na divisa com o Piauí, a região montanhosa tem altitude média de 900 metros e registra temperaturas mais amenas.
O frio da região serrana não alcança registros abaixo dos 10º C, necessários para o cultivo do pistache (ver abaixo). No entanto, a ideia aposta em estudos que mostram a possível adaptação da planta ao clima tropical.
De acordo com a Embrapa, ainda não foi formalizada nenhuma parceria para o início das pesquisas que poderiam viabilizar a produção do pistache no Ceará. Os principais desafios para esse empreendimento foram apontados pela instituição e estão listados abaixo.
Condições técnicas para o cultivo:
A adaptação da planta ao clima tropical é vista como um dos maiores obstáculos para a tentativa de cultivar pistache no Ceará.
A planta precisa de um clima frio, com um período entre 2 e 3 meses consecutivos com temperaturas abaixo de 10°C.
Segundo a Embrapa, o clima quente e a falta de um inverno rigoroso representam um grande desafio no Ceará.
A instituição aponta que há testes em andamento na província de Mendoza, na Argentina, que possui clima semiárido e temperaturas baixas no inverno.
Ausência de material genético da planta:
Para importar germoplasma e cultivares (nome para uma determinada forma da planta cultivada), é necessário ter autorização do Ministério da Agricultura e Pecuária, em processo que dura cerca de um ano.
O procedimento busca evitar que doenças e pragas entrem no país. Este processo deve envolver instituições como a Embrapa e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Após autorização do Ministério, é preciso fazer uma quarentena para garantir a segurança fitossanitária. São cerca de seis meses. É depois da quarentena que o plantio das primeiras mudas pode ser iniciado.
Caso as etapas necessárias sejam realizadas e caso a planta se adapte ao solo cearense, a produção ainda levaria tempo.
São cerca de dez anos para que o ciclo reprodutivo das primeiras plantas seja concluído. Assim, a primeira safra de um cultivo-piloto do pistache brasileiro viria uma década depois do início do plantio.
Neste cenário, a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) precisaria também estruturar a cadeia de processamento da noz.
➡️ Um estudo preliminar do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) apontou, em 2005, a possibilidade de cultivar o pistache no Brasil. Pela demora no retorno econômico, a pesquisa aponta uma possível combinação com outros cultivos rentáveis e que tenham produção mais rápida, como as videiras.
O polo de produção de Petrolina e Juazeiro, no Nordeste, é apontado como região possível para este investimento combinado com a tradição no cultivo de frutas, além de ser um local com água em abundância.
Outras regiões apontadas no estudo são as mais frias do Sul e do Sudeste brasileiro. Até o momento, não há iniciativas para a produção do pistache nestas regiões.
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