Amazônia: aumento do desmatamento e do calor pode gerar novas epidemias
21/12/2025
(Foto: Reprodução) Desmatamento e calor podem provocar duas epidemias por década, dizem pesquisadores
Pesquisadores alertam que o avanço do desmatamento e do calor pode provocar até duas novas epidemias por década — e há quem vigie esse perigo bem de perto, no Pará.
Parece estranho estar na floresta de capacete, mas é que há castanhas. Se cai uma na cabeça, faz um estrago.
A reportagem foi ver o que as armadilhas pegaram à noite. Elas foram armadas não por caçadores, mas por cientistas.
"É o que a gente chama de mucura", aponta Lívia Casseb, chefe da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do IEC (Instituto Evandro Chagas). Trata-se de um gambazinho da Amazônia.
Na rede, passarinhos... E várias espécies de morcegos da fruta. Os mosquitos são capturados perto do chão... Ou lá no alto, no topo das árvores.
Um laboratório seguro é montado ali mesmo. O gambazinho precisa ser sedado para o procedimento. O que os cientistas buscam está no sangue dos animais: os vírus que provocam doenças nos bichos ou na gente.
Amazônia: aumento do desmatamento e do calor pode gerar novas epidemias
Reprodução/Jornal Nacional
"Conhecer esses vírus, entender como eles se relacionam com os animais, com os mosquitos e também com os seres humanos nos ajuda a entender futuras epidemias ou futuras pandemias que possam surgir a partir daqui", explica Lívia Casseb.
O sangue é guardado em temperatura muito baixa. Os bichos são soltos de volta na floresta.
A análise do material é no Instituto Evandro Chagas. É preciso roupa especial para entrar no laboratório de segurança, que é um laboratório nível 3, de uma escala até 4. É onde ficam os vírus mais perigosos já encontrados aqui no Brasil.
"Os vírus de segurança 3 e 4 estão guardados nesse espaço também", afirma Lívia Caricio, diretora do Instituto Evandro Chagas.
Nas geladeiras, a 80 graus negativos, há mais de 200 vírus que são acompanhados e estudados. Entre eles, o Sabiá, que provoca uma doença parecida com o ebola: a febre hemorrágica brasileira.
As amostras trazidas da floresta são analisadas para isolamento e identificação de vírus.
Nesse laboratório, foram isolados e identificados 115 vírus que são da Amazônia, que não eram conhecidos da ciência. E desses, 36 a gente já sabe que são capazes de infectar humanos. E é por isso que esse monitoramento é tão importante.
Porque esses vírus, a qualquer momento, podem provocar uma nova pandemia.
A maioria desses vírus é transmitida por mosquitos. Que, por causa do aquecimento global, estão se reproduzindo mais rápido e carregam um número maior de vírus.
"Mais mosquitos infectados com uma carga viral maior, o que vai levar, então, à maior disseminação dessas doenças nas populações humanas e de outros vertebrados que sejam suscetíveis", alerta Lívia Caricio.